O Livro

Mensagens que nunca alcançaram seus destinatários...

No passado, quando uma carta ou encomenda não alcançava seu destino – fosse por inesperadas ausências, fosse por erros de endereçamento –, iam esperar em um quarto especial dos correios... lá onde cada instante é sempre.


Destinatários que não receberam suas mensagens...

Ansiosos por uma resposta, um pedido, uma declaração, um sinal, uma notícia, uma dor... acabavam por, em alguma àtardecência da vida, tentar buscar nos correios o antídoto para seus vazios. É na antiga posta-restante dos serviço postais que esses dois elementos se cruzavam, enfim.


Como gosta de brincar, Mark Cardoso “canta, dança e não representa... mas escreve!” Sempre escreveu. Ao longo da vida, escreveu mensagens para alguéns, cartas para ninguéns e textos para tocar outras almas. Gosta de acreditar que as palavras nascem no pé da goela, entre boca e coração, e escorrem pelas pontas dos dedos.


Neste que é seu primeiro livro, reuniu todas as mensagens que nunca encontraram seus destinatários; mensagens cujos destinatários já vieram, em algum momento, reclamar suas posses; e também mensagens que se tornarão pó, na estante dos restos dos dias. A não ser que você passe lá para reclamá-las...


E assim, receberá contos ficcionais em universos de amor, dissabor e risadagem; diários do divã, com uma analista que, no fim, você vai querer chamar de 'minha'; crônicas de uma vida como a tua: sempre em busca de fôlego; e cartas perto do coração — selvagem ou não. 


A posta-restante, portanto, é aquele espaço familiar em que, apesar disso, tudo é saudade e alguma coisa sempre falta.


Com esta obra, Mark quer acreditar que, às vezes, a gente acaba. E ponto-final... 

Mas sempre recomeçamos para reencenar aquilo que gela a barriga, treme a mente e mantém o coração a palpitar.


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Clique aqui e divida com a gente que trecho te fez gelar, que palavras te fizeram tremer e que desfechos palpitaram por aí.

CONHEÇA UM POUCO MAIS

Abaixo, entre outras coisas, você pode acessar trechos 

daquilo que vai encontrar ao abrir as páginas do livro

PARA LER COM AS ORELHAS

Escute aqui o autor e amigas atrizes em leitura dramática de alguns dos textos que você poderá ler quando desatar o barbante puído que une diversos envelopes amarelados esquecidos na Posta-Restante.

PARA OUVIR

Para conhecer a alma musical deste livro, dê o play abaixo:

PARA ESPIAR ENTRE AS PÁGINAS

O Campanário Orgástico

Chovia. Claro que chovia…

Há mais de 400 anos que Belém chora, todos os dias, a partida de um jagunço que entrou em um barco, nas docas do Ver-o-Peso, e nunca mais pôde voltar. Jagunço esse que, há tantas e tantas gerações, protagonizou o clichê de amarrar uma índia e, tantas e tantas gerações depois, dar raiz à Morena.

Com a pele que alternava entre o pardo e o bronzeado, ela desfilava sua pouca estatura e olhos gateados, em formato losangular, entre o Marco, o Reduto, a Cidade Velha e a Perimetral da Ciência. Quando muito, embarcava em um popopó e cruzava o rio, rumo à Ilha do Combu. Morena desbravava os igarapés como uma bota, e gastava algumas tardes de domingo entre macaxeira frita e cerveja local. Dos mergulhos, imergia sempre com um sorriso no rosto para o caso de estar sendo observada.

Foi na praça Princesa Isabel, num desses desembarques dominicais em que mais uma vez matava culto para ir divertir a carne, que viu passar Ulisses…

Estavam juntos desde a Páscoa do ano anterior. Aquele "juntos" um tanto moderninho para uma Belém anos 2004, em que ninguém cobra ninguém, ambos se pegam e todo mundo goza. Mas gozar "naquelas"… Morena tinha lá suas limitações religiosas (...)

Posto
à Prova

(...) Até que um bate-boca quartifuso, à beira da catedral inacabada, rasga a pausa em duas. As claves caem ao chão. Você em Dó, enquanto eu tentava ver o Sol.

No minuto em que percebo que estávamos há dias sem um toque, eu só conseguia pensar: "mas éramos tão ótimos em viagens… ao menos em viagens". A mínima semínima que resta avisa que, na terra do separatismo, um temível desfecho dava as caras entre taças, tapas e vinhos.

Nesta madrugada de início de uma nova temporada de chuvas no deserto, eu ouvi a TV (“Modern Love”) dizer que, "às vezes, a gente percebe que o amor de verdade tem muitos propósitos na vida. Não se resume a colocar bebês no mundo, a romance, a almas gêmeas… nem a uma união pra vida toda."

Enquanto a fumaça sobe, penso na quantidade de gente, lá fora, que vai viver a vida A pensando, e-ter-na-men-te, como teria sido a vida B.

Me encho de uma alegria quieta, de gestos curtos e palavras reverentes, pelo simples fato de termos colocado aquele amor à prova. Vejo sentido em tudo. Vejo valor em você. Em mim. Fim.






#Da_Analista

5.ago
—Como você quer encerrar sua sessão?

—Hmm... em silêncio.

A Analista dá uma risadinha de quem pescou a referência que fiz à fala das sessões anteriores.

—Sem afirmações... sem perguntas... isso é bom — ela joga no ar.

—Seguindo na observância — coloco.

—Que o silêncio aponte o caminho.

O Que Consome

(...)

Mas um dia, pegou fogo na casa…

E eu salvei o quê?

O fogo.

 

Não se convence um incêndio a queimar mais lentamente.

O fogo era eu.


Presságios

Minha mãe sempre diz que é possível saber quando vai chover pelo vapor dos alimentos quando saídos do forno para a mesa. Eu chamava isso de presságio, mas não é bem um presságio, são os pequeníssimos sinais que antecedem as coisas. Basta ter olhos para ver. (...)

Garantias e Sonhos

Há alguns meses, ao finalizar uma sessão de bastante soco do real na própria nuca, a analista abriu a porta com um olhar sóbrio e disse: "lembre-se: não existem garantias. A gente inventa as garantias". (...)

Alforriada

(...) Eu sei é que quando pude, tracei a rota de fuga pelo meio daquela gente. Corria com os pés batendo na bunda e sem nenhuma vontade de olhar pro que ficou…

É que eu tinha ganhado as minhas primeiras moedas. E com ela, a minha liberdade: me lembro a primeira vez que eu comprei um livro com meu próprio dinheirinho.

Me lembro que, desde então, nunca mais eu quis saber de não posso.

Sangue e Seiva

(...) Seiva ou sangue, a coisa pulsa. E quem tem em si essa pulsão se assusta naturalmente com as mudanças. Apesar da beleza da nudez, seja de pele, seja de folhas… e o vento que sopra. (...)





#Da_Analista II

8.abr

—Não foi o jantar o que você vomitou naquela madrugada...

—É... o que terá sido?

—...não foi o tal magret de pato...

—Talvez eu tenha vomitado a conversa que eu pensei em ter, mas decidi por não ter...

—Hmm...

—Optar pelo não-protagonismo tem lá seus custos... — reflito. —Me lembrei da Ana (Suy), agora, que diz que “na melhor das hipóteses, o peito dói, o ideal escapa, a fantasia se desintegra, o outro comparece como sendo ele mesmo e não como reflexo da nossa própria imagem”. É isso...

 

12.abr

—Estranho, né? — me provoca a Analista, depois de ouvir meu relato não-linear.

—O quê?! — pergunto, sem entender.

—Depois de tudo, querer brincar e não ter com quem...

—Hahahahahahahahahaha!

—Hahaha...

No Sul da Bahia

(...)
—Que susto, Mari — ele solta gritando em forma de sussurros ao despertar.

—Shhhh... — ela pede, calmamente, como quem sente que tem o controle de toda a situação. —Ele já tomou o Zolpidem dele. Eu fui tomar um banho, e a fresta da sua porta aberta me convidou — confessa ela, como se nada.

—Você não tem jeito, né?! — ele segura o riso, mas não segura o magnetismo com o qual a nuca daquela mulher sugou de sua boca um beijo.

Como de costume, Pedro e Marieta acabam por não transar. Mas fazem amor. Um amor que é deles. Por fim, ele se vê hipnotizado pela luz branca que vem da noite e que pinta, em suave contraluz, o contorno da bunda e da cintura dela, bem ao lado do seu corpo.







QUEM SÃO AQUELAS MULHERES?

Conheça Fernanda Stange e Nathalia Duprat, elas, 

que assinam cartas que também compõem Posta-Restante

Fernanda Stange

Em breve, aqui, entrevista com ela que é psicanalista, escritora e capixaba como o autor

Nathalia Duprat

Em breve, entrevista com ela que é jornalista, escritora e poeta do Recife

Mergulhe! Aqui, nunca ficamos no raso

É tudo poesia e vendaval